Entre os vários tópicos que a Sociedade continuará a ter de colocar na agenda daqui para a frente, da digitalização até à sustentabilidade ou às novas regras dos estágios com a revisão de estatutos da Ordem, qual o mais desafiante? E qual será a principal novidade no vosso “plano de atividades” para 2024?
João Caiado Guerreiro – Penso que todos, seja na advocacia, seja numa outra atividade, temos de aprender a lidar com a Inteligência Artificial (IA). Na Caiado Guerreiro já estamos a utilizar a IA como ferramenta de trabalho com o intuito de melhorar os serviços que prestamos aos nossos clientes. No caso particular da advocacia, acredito que vai ser importante, mas ainda não há a real perceção se os benefícios serão maiores do que as desvantagens, sobretudo em termos de emprego. Se a IA evoluir ao ponto de produzir o que muitos jovens advogados produzem no início da sua carreira, o que acontecerá a esses empregos? Precisamos testar, analisar e perceber como utilizar a ferramenta.
Sobre a sustentabilidade há muito que temos vindo a adotar várias medidas nesse âmbito, é algo que ao contrário da IA não é tão novo. As regras dos novos estágios e revisão de estatutos da Ordem é um tema muito recente e é visto de duas formas distintas por muitos: por um lado o Governo fala numa “questão de decência” e de “combate à precaridade”. Por outro lado, haverá quem não possa pagar a um estagiário o valor do ordenado mínimo acrescido de 25%, inibindo muito a possibilidade de os jovens entrarem no mercado de trabalho.
Relativamente ao nosso plano de Atividades para o ano de 2024, nós, na Caiado Guerreiro, continuaremos a investir muito no que concerne à tecnologia, à IA, e à agilização de processos, com equipas multidisciplinares com grande enfoque nas nossas áreas de prática mais fortes e reconhecidas. Hoje, com a competitividade do mercado, é fulcral prestar um serviço de elevada qualidade e para isso é preciso investir sempre mais nas pessoas.
Questão: O que espera do mercado da advocacia para o próximo ano?
João Caiado Guerreiro – Penso que 2024 é um ano difícil de projetar: será eleito um novo Governo que tomará posse na melhor das hipóteses em abril. A guerra na Ucrânia que está para durar, o conflito Israel/Hamas na faixa de Gaza, e a estagnação económica na Zona Euro, são outros fatores imprevisíveis. A isto junta-se a inflação que se espera de 2.9% no próximo ano, as taxas de juro bastante elevadas, e todas as crises pelas quais estamos a passar em diversas áreas – saúde, educação, habitação. Tudo reunido é uma tempestade quase perfeita para as pessoas e empresas. Apesar de tudo isto, estou otimista de que Portugal pode voltar a crescer.
Historicamente as Sociedades de Advogados, em geral, demonstraram uma grande e surpreendente capacidade de se adaptar, de gerar negócio, com uma estoica superação em contextos mais difíceis. O passado mostrou-nos que com investimento estruturado em pessoas e na tecnologia, podemos manter os níveis de negócio e, com algumas novas ideias e projetos mais disruptivos, até aumentar.
Para isso, temos de fazer um importante ajuste na forma de pensar dos advogados, analisar de forma estruturada o que sempre fizemos bem e o que temos de incrementar. Uma atitude pró-ativa é essencial. Tanto como é fundamental aconselhar da melhor forma os nossos clientes e ajudá-los, dessa forma, a acrescentar valor.
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